sábado, 13 de setembro de 2008

Orgulho de ser brasileiro II, o retorno

"Isso é a vontade de vencer, e mais ainda, a vontade de viver. A medalha é uma homenagem à minha vida."

Foi com essas palavras que a brasileira Verônica Almeida coroou sua medalha de bronze na natação em Pequim. Sim, ainda estamos vendo esporte na sua essência na capital chinesa, agora com os Jogos Paraolímpicos.

São competições com atletas menos badalados. Na verdade, eles praticamente não são conhecidos. Eu não lembro de ter ouvido falar em Verônica Almeida. Também pudera, a cobertura dos Jogos Paraolímpicos consegue ser impressionantemente ruim. A imprensa dificilmente fala nos atletas Paraolímpicos. Notícia para eles só quando conseguem medalha.

E é aí que entra a oportunidade de ler as entrelinhas. Nada de "agradeço ao patrocinador", "quero valorização", "vou buscar meu espaço na seleção". Nada disso. Cada um que conquista uma medalha tem sua história. E se você pensa que já viu histórias de superação de atletas, acaba sempre se surpreendendo.

Lucas Prado, que já teve fissuras nas duas pernas por excesso de treinos (excesso de treinos, olhe aí, veja você! - qualquer diferença com alguma modalidade esportiva milionária e famosa não deve ser mera coincidência), está ganhando medalhas em escala industrial. Ao ganhar sua segunda medalha de ouro no atletismo (e bater outro recorde mundial), saiu-se com essa frase:

"Foi uma grande emoção conquistar esse ouro com o recorde mundial. Eu estava um pouco cansado, porque disputei três tiros de 200 metros em seguida, mas consegui ser forte para suportar a pressão. Estou muito feliz, e agora tenho que descansar para os 400m rasos."

Ou seja, ele continua motivado, com vontade de vencer. Cansaço é problema ou desculpa? Não para ele.

Clodoaldo Silva, multi-campeão na natação, ganhou sua primeira medalha em equipe, em um revezamento 4x50 metros. Não saiu batendo no peito, dizendo "eu sou soda, eu sou soda". Nada disso. Apenas disse, voz embargada e olhos marejados:

"É bom ser campeão individual, mas é muito melhor ser campeão em equipe."

Que espírito, senhoras e senhores! Que grande demonstração de força de vontade! Que grande falta de individualismo! Quanto desapego aos holofotes!

Daniel Dias, outro nadador que tive o imenso prazer de ver competindo pelo Brasil, ao ganhar sua primeira medalha de ouro no dia da Independência do seu país (já são quatro - sua posição no quadro de medalhas, sozinho, já seria de dar inveja a muito país grande por aí), disse sem pestanejar:

"Vou poder escutar o hino nacional no dia 7 de setembro, mesmo na China. Se Deus quiser, mais medalhas virão."

Além de ser exemplo de superação, é patriota. Tem esse sentimento que às vezes algumas pessoas nem entendem bem o que é.

Não são eles os únicos exemplos. O Brasil tem uma grande e valorosa delegação nas Paraolimíadas de Pequim. Todos esses atletas (eu disse todos) são exemplos para nós. Todos eles nos mostram como se pode superar problemas e adversidades. Na verdade, não precisam ganhar medalhas para nos encher de orgulho. E nos lembram aquilo que a música cantada pelo Zeca Pagodinho diz:

"Mas digo sinceramente, na vida, a coisa mais feia
É gente que vive chorando de barriga cheia"


Só nos resta lamentar que esses Jogos Paraolímpicos não sejam transmitidos com o foco que tiveram os Jogos Olímpicos. Mas tudo bem. Para estes atletas brasileiros, não é fundamental que haja um narrador (ruim) gritando "é ouro! é prata! é ouro! é prata! é ouro! é ourooo!". Eles vão competir com a mesma vontade, a mesma garra, o mesmo entusiasmo, mesmo sem a promoção que uma cobertura completa da imprensa traria.

Porque essas pessoas não são atletas, senhoras e senhores.

Essas pessoas são verdadeiros heróis. Heróis nacionais? Talvez. Mas acima de tudo, heróis na vida. Heróis na própria vida.

O que só nos deve encher de orgulho.

Nessas horas, como é bom ser brasileiro!

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente não tenho acompanhado as Paraolímpiadas como acompanhei as Olímpiadas. Acho que em boa parte pela diferença brutal de cobertura. Pelo jeito estou perdendo bastante coisa...

Esporte é superação, é gana de vencer, é dedicação, é mostrar que se tem valor, e essas não faltam para os atletas com deficiência do Brasil.

Já o lado chato e desintessante do esporte é quando este vira apenas um meio de se destacar na mídia para ter seu "passe" valorizado junto a seu clube. Daí o cara não é atleta, é celebridade.