sábado, 29 de março de 2008

Hoje eu lavei o Zico

Que dia, amigos, que dia!

Hoje posso dizer que lavei o Zico. Acabo de lavar, na verdade.

Calma, gente! O Zico é um botão, um dos mais habilidosos. Rápido, leve, capaz de lances geniais e de chutes certeiros. Lançamentos precisos. Cobranças de falta que parecem tele-guiadas. Lembro-me que eu o batizei assim na época em que o Zico (o da vida real) jogava no Japão. Ele era um veterano, mas estava jogando o que os mais antigos costumavam chamar de "o fino da bola". E estava ajudando a fazer com que o futebol se popularizasse cada vez mais na terra do sol nascente.

Mas... esse meu botão, por que chamá-lo de Zico? Ora, ganhei do meu pai, que já o utilizava quando era jovem. Ganhei quando criança, quando comecei a me interessar por futebol de botão. Então, a coincidência do momento: eu tinha um botão que era veterano, um craque. E o Zico era um veterano, e jogava exatamente como eu achava que meu botão jogava.

Que dia, amigos, que dia!

Peguei meus botões e, um a um, fui limpando-os. Com a calma de um meio-campista canhoto. De inopino, eis que tenho em mãos o Zico. Ah, quantas alegrias ele já havia me proporcionado. Com que habilidade eu o utilizava para abrir as defesas adversárias. E isso foi me trazendo as recordações da infância e da adolescência assim, em ritmo de escola de samba, uma após a outra. Um carnaval de lembranças.

Lembrei de um botão que meu pai sempre gostou. Um que era amarelo embaixo e bordô em cima. Lindo. Outro craque. Hoje, poderia ser chamado de Cristiano Ronaldo dos botões (o botão era meu, eu o comparo com quem eu quiser e o batizo do que eu quiser). Pois ele foi envolvido em uma negociação obscura, que provavelmente trouxe um botão pereba de duas cores. Provavelmente quase como trocar o Cristiano Ronaldo pelo Marreta.

Isso cravou uma estaca no peito do meu pai. Ontem mesmo, quando falávamos nos botões, ele lembrou desse botão, como sempre faz. E me deu a mesma bronca que me deu há uns 15 anos.

Logo depois de limpar o Zico, me deparei com outros botões do tempo do meu pai. Resistiram à sanha assassina das minhas negociações pueris. São lindos. São diferentes de todos os outros. São melhores. Porque eram do meu pai, e hoje eu sei avaliar o valor que eles realmente têm. Hoje eu não troco os botões que ganhei do meu pai por nenhum Kaká, nenhum Schevchenko, nenhum Robinho.

Acho que eu não dava banho nos meus botões há uns 10 anos. Acho que eu não jogo botão há uns 10 anos. Mas lembro de cada lance, cada gol, cada lançamento preciso daqueles botões do meu pai.

Acho até que o botão cinza, "de osso", sorriu meio de lado pra mim quando ganhou um banho.

Que dia, amigos, que dia!

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, são belos botões! Muito habilidosos, muito valiosos! Pena que nesse fim de semana tenham sido comandados por um técnico tão faceiro, que acabou deixando a retaguarda do time desprotegida e amargou um sonoro 3 a 0. O Zico não merecia isto.
A torcida, revoltada, começa a gritar palavras de ordem contra este técnico "faceiro".
"Fora Caçula!"
"Fora Caçula!"
"Fora Caçula!"
... ele precisa dar uma resposta nos próximos jogos. Senão, sua cabeça poderá estar a prêmio.