domingo, 12 de outubro de 2008

Fiscalização para caminhão com cinquenta quilos de linguiça

Achou estranho o título? Eu também.

Eu não estou querendo dizer que houve ou haverá ou deve haver fiscalização especial para caminhões que carreguem seja lá quantos quilos de lingüiça. Mas essa pode ser uma manchete no seu jornal preferido dentro de alguns meses.

Imagine a seguinte situação: um caminhão está com uma carga ilegal de lingüiça. Cinqüenta quilos, digamos. A fiscalização resolve verificar a documentação da carga, e pára o caminhão. "Fiscalização para caminhão com cinquenta quilos de linguiça". Isso. Assim mesmo. Sem acento e sem trema.

Éééééé, amiiiiigo. Reforma ortográáááfica!

Parece que a ortografia andou com uns vazamentos, uns rebocos carcomidos, precisando de uma pintura. Daí resolveram fazer uma reforma e vão matar duas entidades da língua (portuguesa, é claro): o trema e o acento diferencial. E ainda, de lambuja, vai haver alterações no uso do hífen.

Os principais argumentos a favor da reforma são a simplificação e a unificação das ortografias em países cujo idioma oficial é o português.

Eu entendo os argumentos a favor. Mas, como esse é o blog dos ERAD-Boys e esse é seu blog por um mundo melhor e num mundo melhor todas as pessoas conhecem o seu idioma a ponto de ler, escrever, falar e compreender corretamente, resolvi conduzir um trabalho de cunho jornalístico-investigativo (será que tem hífen?) para abalizar as considerações de todos a respeito do tema.

Para isso, abaixo está publicada, na íntegra, sem cortes, com todos os pingos nos is, uma entrevista com uma estudante de letras, que descortina os pontos mais cabalísticos da reforma ortográfica supracitada (que passará a ser sem hífen). Com vocês, Danielle Contessa (minha irmã, mas isso não passa de mero acaso, no caso). Nessa entrevista ela mostra o que pode mudar no dia-a-dia das pessoas, empresas e instituições com a reforma ortográfica.


Blog dos ERAD-Boys: O que tu achas da reforma ortográfica?

Danielle: Sinceramente??? (risos) O mercado editorial agradece. Veja bem: a reforma torna obrigatória a unificação ortográfica nos livros didáticos a partir de 2010. As mudanças atingem apenas 0,43% do vocabulário brasileiro, e já estão nas livrarias obras adaptadas à nova situação. São mudanças pouco expressivas que, mesmo facilitando a unificação do idioma, trazem coisas bizarras ao nosso dia-a-dia. Já pensaram escrever "idéia" sem acento???? Pelo menos não enlouqueceram de todo tirando o acento até de "céu". Aí era ir para as ruas e levantar uma revolução!

B: Ma ma ma ma mas... como vai ser para os professores a experiência de ensinar aos alunos que cinquenta é "cinqüenta" e quilo não é "qüilo"? E o qüinqüênio, que vira "quinquênio"?

D: Talvez as próximas gerações não sintam esse sentimento de deturpação tão forte na língua. No entanto, por hora, acredito que será muito custoso para nós. Como explicar que "averigúe" é "averigúe" mesmo sendo "averigue"? Hard Work!

B: E o pára-quedas? Será que os pára-quedistas têm que se preocupar mais com o equipamento depois que ele perder o hífen e o acento diferencial?

D: Eu não teria a mesma confiança! Afinal, além do hífen a reforma leva embora o acento diferencial, já que junta os dois vocábulos. O equipamento deixa de ser contra quedas e torna-se, preocupantemente, a favor delas.

B: Aliás, para que tirar o acento da conjugação do verbo parar na terceira pessoa do singular do presente do indicativo?

D: Pois entao! Para causar uma confusão dentre os falantes! Imaginem o trabalho de um escritor. Retratando uma viagem de carro. Mulher co-pilota (será que terá hífen) do marido perdido na direção. Escritor para dar emoção à passagem tenta o seguinte diálogo: "Amor, pega a próxima à direita que vai para... Para!!!!" Quem compreenderia? A mulher enlouqueceu e simplesmente gritou a preposição bem alto para chamar atenção, ou há um motivo para parar na estrada? O escritor corta o diálogo. E assim, corta-se um possível mega sucesso literário. O escritor se decepciona e abandona o que estava escrevendo, passando para a autoajuda (agora sem hífen também)! Deprimente.

B: E a lingüiça? Será que ficará mais cara sem o trema? Qual pode ser o impacto da reforma para os açougues e frigoríficos?

D: Se eu fosse dona de açougue aproveitava esse período de adaptação para lançar "A linguiça". Uma iguaria de origem portuguesa muito diferente da nossa lingüiça. Um estouro de vendas!

B: Você acha que a indústria farmacêutica terá problemas com os antiinflamatórios, que passam a ter hífen?

D: Olha... Ninguém lê bula de remédio, acho que essa nem vão notar!

B: E quanto ao neo-imperialismo, que passará a ter não apenas um simples encontro vocálico, mas sim um verdadeiro "motim vocálico", quando passar a ser "neoimperialismo"?

D: Tomara causasse tamanha estranheza no povo. Três vogais juntas não podem indicar um bom sinal... Muito pior do que o neo-imperialismo que já sofremos é o neoimperialismo que está por vir! A união das vogais parece indicar uma união entre as megapotências mundiais que agora, mais do que nunca, exercerão ferrenhamente o domínio informal sobre nós, pobres tupiniquins.

B: Vocês estudantes de letras não ficam com enjoo (sem acento) quando veem (sem acento) que "enjôo" e "vêem" não terão mais o acento diferencial?

D: Com certeza. Significante e significado se perderam. Saussure jamais permitiria que se perdesse o respeito por nossos signos linguísticos.

B: Tá, mas... afinal, quem é Saussure?

D: Saussure é um grande nome na lingüística. Suas idéias desencadearam o surgimento da lingüística enquanto ciência. Ele apontava que todo signo possui um significante (uma imagem acústica, no plano da forma) e um significado (o conceito, no plano do conteúdo).

B: Ah, tah! E o absorvente feminino aquele que é ultra-fino, vai continuar permitindo que as mulheres corram e andem de bicicleta mesmo depois que for "ultrafino"?

D: "Ultrafino" tudo junto também não me inspira confiança, mas pelo jeito teremos que nos acostumar com isso. Nem nossa intimidade está sendo respeitada... Pensando bem, toda a reforma deve ter começado pelo neoimperialismo!

B: E o Batman? Como será que vai reagir quando descobrir que o Coringa passará a ser seu "arquirrival" e o Charada é seu "arqui-inimigo"?

D: Se não é de se preocupar?! Nem os super-heróis foram poupados. Isso é um ataque direto contra tudo o que sempre acreditamos. O Batman deve se preocupar... Com um arquirrival com dois "erres" e um arqui-inimigo com hífen e outro "i" podemos desconfiar de uma trama em conjunto pela destruição de Gotham City, e até do mundo todo!

B: As pipocas de "micro-ondas" vão ser mais gostosas que as pipocas de microondas?

D: A pergunta ideal seria: porque mexer no nosso microondas? Talvez nós gostemos das pipocas de microondas e não estejamos prontos para as de micro-ondas. Talvez nós gostássemos de ser bilíngües, já que bilíngue só pode ser parente daquela linguiça portuguesa. As geléias não terão o mesmo gosto como "geleias". As jóias perderão o brilho tornando-se "joias". E eles pedem para ficarmos "tranquilos"???

E essa foi a primeira entrevista do Blog dos ERAD-Boys. Obrigado à Danielle pelos esclarecimentos oportunos a essas grandessíssimas questões que ora nos atordoam. Certamente há ainda questões deveras importantes e complexas a serem respondidas sobre a reforma ortográfica. Mas que é de uma feiura sem acento e sem tamanho escrever linguiça, cinquenta, quinquenio, panaceia e jiboia, ahhh, isso é!

Será cada vez menos frequente encontrar pessoas com grande eloquência.

Em compensação, cada vez mais delinquentes e sequestradores são encontrados nas ruas das grandes cidades. Até os pinguins do polo norte terão seu voo atrapalhado. Imagine os futuros alunos das séries iniciais tendo que lidar com isso.

Menos mal que parece que o chapéu do vovô e o acento da vovó vão escapar ilesos dessas mudanças.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vendedor é fogo

Dia desses fui na FENAC (Feira Nacional do Calçado) em Novo Hamburgo.
Dentro de uma loja, vi um cliente dizer para uma vendedora que havia gostado de um sapato que estava na prateleira. Ele perguntou:

- Gostei deste aqui. Vocês têm em outros tamanhos?

E a vendedora:

- Não temos. Só esse 42, mas experimenta porque a fôrma é bem grande.

A vendedora terminou de falar isso e virou de costas para atender outra pessoa (Tinha muita gente pra ser atendida).
O cliente ficou meio contrariado e sentou do meu lado, esperando que a vendedora desse atenção pra ele novamente.

Depois de alguns segundos (menos de minuto), a vendedora se vira novamente e diz:

- E então senhor? Serviu?

O cara fala:

- Nem experimentei. Eu calço 41.

E a vendedora:

- Ah, mas experimenta, a fôrma é bem pequena.

Nisso o cliente dá uma risadinha, olha pra ela e diz:

- Ué? A fôrma mudou?

sábado, 4 de outubro de 2008

A importância de apenas um

Então é isso. 5 de outubro, eleições municipais.

A mim, sinceramente, não importa em quem alguém vai votar. Eu sei em quem eu vou votar. Eu só gostaria que todos (eu disse todos) os cidadãos votassem conscientemente. Não adianta votar nulo, nu, no "Nononono". Eu queria que todos tivessem consciência.

Pode ser que as opções não sejam das melhores. Não quero e nem vou entrar na discussão sobre quem deve ou não deve ganhar, quem é o melhor candidato, quem está mais preparado, quem é mais correto ou honesto, quem fez ou fará mais pelo povo, quem tem a melhor proposta pela educação, pela saúde, pela segurança pública, pelo transporte, pelo emprego, pela moradia, pela cultura, pela inclusão social, pelos jovens, pelos adultos, pelos idosos, pelas mulheres.

Horário eleitoral é um saco. Alguém viu?

Candidato a vereador às vezes é engraçado. Alguém aí cita mais de 5?

Alguém aí acessou a página dos candidatos para saber o que eles propõem?

Claro, todos nós corremos o risco em todas as eleições de que todos os candidatos estejam só nos empanturrando de promessas. Em alguns casos, fica clara a tentativa de nos engambelar e a gente consegue perceber, daí podemos defenestrar os embusteiros. Em outros, a gente só se dá conta depois que o mandato já está em andamento. Mas enfim, é um risco. E é contra esse risco que a gente tem uma só arma.

E a arma não é o voto. Ele é um meio. A arma é a consciência. É pensar antes de apertar os botões.

Mas o fato é que alguém tem que ser eleito. E que não seja usado aquele discurso de que "ah, eu sou um só, meu voto não faz diferença".

É nessas horas que a gente pode comprovar a importância de apenas um.

(Editado em 04/10/2008 - 22:58 - tinha faltado um "conscientemente". Problemas de escrever, reler, apagar, re-escrever. Faltou, não falta mais... :D)