domingo, 21 de março de 2010

Gordo, baleia, saco de areia

Tenho lembranças da minha infância. Algumas muito remotas.

Nasci. Sim, isso um dia ocorreu, e acredite: graças a isso eu estou aqui. A 13 de janeiro de 1982, vim ao mundo. Um bebê rechonchudinho, uma cara de joelho. Não que eu lembre disso, mas eu queria começar de um ponto e achei que esse era um bom começo.

Fui crescendo. E fui me tornando um feliz menino gordinho. Gordinho mesmo. Um piá pançudo. Isso não me perturbava, eu que me preocupava muito na época em aprender a andar de bicicleta sem rodinhas auxiliares, que chorava porque queria que o Telê Santana colocasse o Casagrande na Seleção ("Ele não bota o Casão, ele tem que botar o Casão"). Eu sabia tudo das corridas de Fórmula 1. Tudo isso lá pelos 4 ou 5 anos. Lembro cristalinamente do dia do jogo do Brasil com a França, quartas-de-final da Copa de 1986. Lembro do pênalti que a França errou, mas que bateu no Carlos e entrou. Esse jogo eu vi na casa da avó materna. Mais ou menos nessa época, aprendi a ler e escrever, modéstia à parte. Eu era um chato, nessa época. Lia os letreiros dos caminhões, lia as placas na rua. Enfim, eu era um piá. Gordinho.

Avança a fita.

Fui para a escola. Gordo, baleia, saco de areia. Criança é cruel, principalmente quando era pra me axincalhar porque eu era um guri gordinho. Nunca me queriam no time de futebol, eu era o último a ser escolhido. Minha chance era quando eu escolhia o time, ou (melhor ainda) quando a bola era minha. Mas eu nunca dei muita importância pra isso. Eu chamava meu agressor de magricelo, e achava que com isso estávamos quites.

Avança a fita.

18 de setembro de 2009. Farmácia. Apenas uma parada pra comprar um remédio pro meu rechonchudo pai. Vi a balança, e pensei: por que pesar, por que não pesar? Pesei-o-o, o meu próprio corpo, veja você. E qual não foi minha surpresa quando vi, estampado em números luminosos vermelhos, no visor digital do instrumento de medição, o número apavorante. 96,9. Quilos. Isso mesmo, quilos. Não eram gramas. Eram quase cem quilos. Noventa e seis quilos e novecentos gramas. Tomei a decisão exatamente no momento em que descia da balança:

"Eu não vou mais ser gordo assim. Vou pesar 70 quilos."

E avança a fita.

17 de março de 2010. Consultório da nutricionista. Ela me pesa, balança daquelas manuais, que todos dizem que são as boas. E o valor dá diferente do que eu vinha medindo. Pergunto por quê, e ela me informa que as balanças que eu usei realmente dão uma diferença no peso. Pra mais. Aqui precisa não de uma, mas de duas exclamações. Pra mais!!

67 quilos. 1,68m de altura, e 67 quilos. IMC de 23 ponto alguma coisa.

Eu quis comprar a balança dela. Ela riu e não quis me vender.

Venci. Sem falsa modéstia, venci. Sei que foi a primeira etapa, mas venci. Sei que agora a luta é pra manter o peso assim como ele está, mas venci. A nutricionista me elogiou, disse que eu estou bem e que eu sou um exemplo. Eu sei, não estou sendo modesto, você tem todo direito de achar e dizer isso, porque não estou mesmo.

Não foi uma vitória só minha. Tive ajudas, conselhos, ouvidos que me ouviram. Minha família venceu comigo. Os ERAD-Boys venceram comigo. E eu nunca esquecerei disso e não cansarei de reconhecer e agradecer.

Então, vencemos! Este é o fato e contra fatos não há argumentos. Os números gritam.

Agora, com licença. Vou me preparar para dar o maior desfalque possível no restaurante hoje à noite. Depois eu compenso com frutas, saladas, iogurtes, coisas saudáveis, conforme orientações da nutricionista. Hoje vou é comer.

Mas nunca mais serei gordo como eu era.